E mais uma vez o Rio Paraíba do sul sofre com a gestão ambiental inadequada de um grande empreendimento localizado às suas margens.
Não é novidade ver a mídia divulgando mais um acidente envolvendo o derramamento de produtos perigosos nas águas do Rio Paraíba do Sul. Quando finalmente a biota aquática está se recuperando graças a um grande programa de recuperação ambiental necessário para retomar a qualidade da água após o acidente ambiental ocorrido em novembro de 2008, a CSN realiza um lançamento acidental de milhões de litros de produtos químicos no corpo d’água.
Para muitos isto pode parecer apenas mais um evento chato lhes rouba o direito de contemplar a beleza natural deste ecossistema, entretanto, esta questão vai muito além da simples contemplação.
“A Bacia do rio Paraíba do Sul estende-se pelos territórios paulista, mineiro e fluminense. Percorrendo umas das principais áreas industrializadas do país, responsável por 10% do PIB brasileiro, a bacia abastece 14, 3 milhões de pessoas dentre as quais estão quase 9 milhões de pessoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (FORMIGA-JOHNSSON, 2008). Esta região encontra-se fora dos limites da bacia, entretanto, 2/3 da vazão regularizada do rio Paraíba do sul em seu trecho fluminense, são transpostos para o rio Guandu para geração de energia elétrica e também para o abastecimento de 85% da população da RMRJ, através da ETA Guandu, operada pela Cedae.” (VIANA, 2009)
“Resultante da confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, o rio Paraíba do Sul nasce em São Paulo próximo ao município de Paraibuna. A área da bacia corresponde a cerca de 0, 7% da área do país e, aproximadamente, a 6% da região sudeste do Brasil. No Rio de Janeiro, a bacia abrange 63% da área total do estado; em São Paulo , 5% e em Minas Gerais , apenas 4% (CEIVAP, 2009). Seus principais afluentes são os rios Paraibuna, Pomba e Muriaé pela margem esquerda e Piraí, Piabanha e Dois Rios pela margem direita.” (VIANA, 2009)
“A bacia abrange 180 municípios dentre os quais se apresentam importantes pólos industriais. Em São Paulo a CETESB registra 2.500 empresas na bacia, em Minas Gerais a FEAM registra 2.000 indústrias cadastradas, das quais 1.000 se situam na sub-bacia do rio Paraibuna e no Rio de Janeiro o trecho crítico é a região do médio Paraíba (GRUBEN E JOHNSSON, 2001)”. (VIANA, 2009)
“O abastecimento da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é hoje extremamente dependente das águas que chegam à ETA Guandu, operada pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). Essas águas são majoritariamente provenientes da bacia vizinha do rio Paraíba do Sul; cerca de dois-terços da vazão regularizada do rio Paraíba do Sul, no seu trecho médio, mais quase a totalidade da vazão de um afluente, o rio Piraí, são transpostos para a Bacia do rio Guandu para geração de energia elétrica no Complexo Hidrelétrico de Lajes, na vertente atlântica da Serra do Mar (Sistema Light-Guandu). Essa transposição, implantada a partir dos anos 50, criou uma oferta hídrica relevante na bacia receptora do rio Guandu, que se tornou o principal manancial de abastecimento de água da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com cerca de 9 milhões de habitantes (IBGE, 2007) e de várias indústrias, termelétricas e outras atividades ali situadas.” (VIANA, 2009)
“A exposição da ETA Guandu a riscos ambientais é uma realidade, pois compreende a Bacia do Paraíba do Sul, a montante da transposição, bem como a Bacia do rio Guandu, a montante do ponto de captação da Cedae. Não somente as plantas industriais instaladas nessas bacias hidrográficas, mas também as atividades de transporte terrestre (rodoviário, ferroviário e dutoviário) dos produtos perigosos, fabricados e/ou utilizados por essas indústrias, constituem riscos potenciais de acidentes ambientais[1] que podem atingir e comprometer a qualidade das águas do rio Guandu.” (VIANA, 2009)
De acordo com Viana (2009), em março de 2003, na sub-bacia do rio Pomba, um reservatório de rejeitos da indústria Cataguases Papel rompeu, liberando 1, 2 bilhões de litros de resíduos no córrego Cágados, atingindo em seguida o rio Pombas em Minas Gerais e alcançando o rio Paraíba do Sul em seu trecho fluminense até chegar ao mar. Este vazamento resultou em diversos danos ambientais, além de suspender atividades rurais e de pesca, bem como o abastecimento de água em municípios de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 18 de novembro de 2008, pelo menos 8 mil litros do pesticida organoclorado endosulfan vazaram da empresa Servatis para o rio Parapetinga atingindo o rio Paraíba do Sul no seu trecho médio, em Resende (SEA, 2009). Esse acidente resultou na interrupção da transposição das águas do rio Paraíba do Sul para o Guandu, e na interrupção do abastecimento de água de várias cidades ao longo do rio Paraíba do Sul como: Porto Real, Quatis, Pinheiral, Barra Mansa e Volta Redonda (CEIVAP, 2009). Além disso, a contaminação resultou em morte da biota aquática que se aproximava do período de reprodução (SEA, 2009).
Quem não se lembra de tantas outras ocorrências que resultaram na poluição deste rio? E agora mais esta? É urgente que seja tomada alguma medida no que diz respeito a estes acidentes. Está é uma questão de segurança ambiental que afeta diretamente a saúde pública e um dos direitos mais fundamentais do homem que é o acesso à água.
Que tal aproveitarmos este momento tão propício de planejamento para Copa e Olimpíadas no município do Rio de Janeiro para nos planejarmos e estudarmos a fundo os riscos existentes e nos prevenirmos da possibilidade de ficarmos sem água em qualquer situação, sobretudo, em períodos onde estaremos recebendo visitantes do mundo todo em nosso Estado ?
Vocês já ouviram falar em Plano de Segurança de Água? Leiam o próximo Post e entendam do que se trata.
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